Essa postagem é um comentário da Professora Rosane Pereira, que é docente nos cursos de Comunicação Social, Educação Artística e Design de Moda da UNIVERSO/Niterói e docente nos cursos técnicos em Publicidade e Marketing da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch/ FAETEC.
É um privilégio para a MRC Publicidade ter a primeira postagem de uma professora em nosso blog. Invista alguns minutos nesse comentário da Professora Rosane Pereira.
"A agência AlmapBBDO realizou alguns comerciais de televisão para o anunciante VISA no ano de 2012. Nestas propagandas, a linha de criatividade do humor (BARRETO, 2004) é a base para outras questões que podem ser consideradas polêmicas.
A campanha, cujo slogan "Vai de VISA" sobrepõe o dissenso entre imagem e texto no discurso publicitário (ORLANDI, 1999) do consumo capitalista, parece nos sugerir "Vai de", vai com, "VISA" em qualquer ocasião. A polêmica não está nessa possível paráfrase, mas sim na polissemia de sentidos a interpretar, a partir do uso das imagens associadas ao diálogo.
É o caso do rapaz que compra uma coroa de flores no estilo funerário para a namorada (veja o vídeo aqui), do homem que compra passagens para a Copa em Londrina (veja o vídeo aqui) ou do senhor que compra mais tintura vermelha para seus cabelos já tingidos e com aparência de peruca de palhaço.
A resposta dos vendedores em todos os casos quebra a expectativa, produz dissenso no público, e corrobora o mau uso ou uso polêmico tanto dos produtos comprados, quanto da própria profissão de vendedor, pois parece salientar também o conselho desses supostos vendedores, de que comprar com VISA é melhor do que com dinheiro e outros cartões.
A imagem mostra humoradamente que as compras são equivocadas, mas é possível interpretar do ponto de vista ético, para além da descrição das propagandas, que tudo se passa como se todo vendedor contribuísse para a venda a qualquer custo, mesmo sendo ruim para o consumidor: o importante é usar VISA.
Possivelmente, esse efeito de sentido possível de tais propagandas não foi imaginado pelos publicitários criativos da agência referida. É o que se poderia chamar de "intencionalidade não subjetiva" (FOUCAULT, 2006) dos publicitários de criação (criativos), ou seja, de sujeitos perpassados pelo interdiscurso, a fala de outros autores incutida nas suas falas e a fa(lh)a de outros que irrompem nas falas desses publicitários sem controle absoluto, por meio do ou no inconsciente, tal como os constitui.
Comparando ao que se chama nos estudos de marketing de "Estratégia Swot", de Albert Humphrey (Universidade de Stanford, 1960-1970), com base em dados de empresas na revista Fortune: as Forças (strenghts), notadamente das imagens bem humoradas nessas propagandas, as Fraquezas (weaknesses) representadas pelas compras equivocadas e as Oportunidades (opportunities) sugeridas pelos vendedores quanto ao uso do cartão VISA e não do dinheiro, podem resultar em Ameaças (threats) ao imaginário, ao conceito do cliente da agência (anunciante VISA), que pode ser visto (visado) como utilizado em situações duvidosas, ainda que bem humoradas. No entanto, como se trata de situações sui generis em que os sujeitos e os papéis sociais estão caricaturados e não constituem indicação direta a alguém ou a algum produto em específico, nem mesmo há acusação de alguma empresa ou representação da sociedade em processo contra a criatividade da propaganda, como acontece no CONAR (Conselho de Auto Regulamentação Publicitária). Trata-se da heterogeneidade enunciativa (AUTHIER-REVUZ, 1998) que se tentou trazer nessa análise do anúncio".
Rosane da Conceição Pereira